<$BlogRSDUrl$> Meu humor atual - i*Eu

quinta-feira, dezembro 12, 2002

Assusto-me ao pensar que as noites são iguais e que vou ter que as atravessar, uma a uma, sozinha. Estranho só agora ter reparado numa coisa tão óbvia. Que uma noite antiquíssima se sucede igualzinha à outra desde sempre, que tenho diante de mim uma enorme massa informe e vazia onde tudo desaparece, que nem sei quem sou, inconsciente. Faço conjecturas teológicas para me explicar esta escuridão, esta falta de sentido. Deus ter-se-á esquecido desta sua obra por ter começado outra? Ter-se-á fartado das suas pretensiosas criaturas e começado tudo de raiz noutro sítio? Sentir-se-á arrependido e triste e impotente depois de cometidos crimes tão monstruosos e sem coragem de nos dizer de sua franqueza? Será bom e justo mas já incapaz de impor a sua justiça depois de muitas tentativas falhadas, um Deus cansado e velho que os filhos ignoram e deixam de visitar? De cada vez que começo a pensar nisto há sempre um ponto a partir do qual deixo de pensar no que quer que seja, em que os juízos se atrapalham uns aos outros, confundindo-me. Sinto invadir-me uma melancolia de outros tempos em que acreditar era mais fácil. Ou talvez não, talvez me engane, talvez tenha sido sempre assim, do mesmo modo absurdo. O que sei é que sozinhos nos invade um terror agudo que nos imobiliza os membros e a vontade e que os outros se encontrem na mesma situação não chega para dar o alento mínimo indispensável. Sozinhos numa solidão universal, que pavoroso panorama. Será certamente a causa por que a distracção deixou de ser um complemento agradável no decorrer dos dias para se tornar numa questão de sobrevivência e o seu valor monetário subir em flecha. Precisamos urgentemente de nos enganar com o que quer que seja, de fugir à brutal realidade das coisas, de entrar em zonas que nos poupem a lucidez. Adoecemos rapidamente de não formos entretendidos. O amor entra aqui como água em terra seca, um substituto em tempos indigentes, de grande insuficiência, o que nos resta. Mas é um amor em sobressalto, fugidio, instável. Um amor que mete muito medo, medo de irremediavelmente nos perdermos, de não nos voltarmos a encontar senão mais sozinhos, não podermos ou não querermos continuar e ficarmos pior do que estávamos no começo. Não sei o que me deu para me pôr a pensar nisto. Se ao menos ajudasse. Os pensamentos convertem-se noutros meros pensamentos e em volta tudo se cala.
Comments: Enviar um comentário

This page is powered by Blogger. Isn't yours?