<$BlogRSDUrl$> Meu humor atual - i*Eu

sexta-feira, novembro 29, 2002

Pouco a poucas vais-me expulsando da tua vida. Com avanços e recuos, é um trabalho árduo. Eu por mim não me mexia, deixava que a morte me surpreendesse em qualquer parte. Mas tu aindas estás cheio de vida, não deixas que o meu peso estorve o teu caminho. Eu concordo. Prometo nada fazer que impeça o livrares-te de mim. Mas é muito dificil pensar em ti no tempo passado. É um mistério tão grande o não saber onde ficam os nossos gestos, não poder enfim voltar a ouvir as palavras doces. Por vezes julgo que enlouqueço , que estou muito perto disso, e tenho de acender todas as luzes, levantar-me, ver o meu corpo a prosseguir de um lado para o outro. É tão dificil concentar-me, impedir que os pensamentos corram sem direcção nem sentido, me surpreendam em insinuações tão dolorosas. Tomo comprimidos. Mesmo antes da dor chegar, tomo comprimidos. O pavor de nada voltar a acontecer invade-me. Agarro uma almofada, o tecido fresco sobre a cara oferece um pequeno alívio que logo se dissipa. É preciso saber que nada dura, nem isto, acreditar nisso com muita força, deixar que os olhos fiquem fechados. De manhã é mais fácil. Há o ar da manhã. Há o café quente. Há o sofrimento dos outros por todas as esquinas espalhado. Nem estás sozinho nisto, nem vales quase nada. Tens a tua vida normal que exige ser vivida. Sentes culpa de não seres de outra maneira, de não poderes, de não tentares o suficiente. Perdes perdão alto como se Deus existisse e te ouvisse, um Deus que serviria as tuas conviniências. Mas não, ele não te ouve. A ti não ouve. O começo das Variações de Goldberg vem provar que continuam a existir coisas perfeitas, pelo menos para os ouvidos, e acabo por sorrir com uma piada do género embora me pareça um escândalo voltar a sorrir. É vida a passar de qualquer jeito, a passar por entre os finos dedos da morte.
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